Sobre memória afetiva e uma receita doce
Nesse post escolhi falar um pouquinho sobre o que a confeitaria representa para mim. Dentre muitas coisas, talvez a mais significativa, seja o afeto. Quando penso em doces, quando penso na minha história com a confeitaria, sempre me vem momentos de afeto, de carinho, e alegria.
A carga afetiva de uma sobremesa é algo realmente impressionante, carregamos memórias de momentos e receitas que nos marcam para o resto da vida. Viram nossas “madeleines de Proust”, por assim dizer, numa busca incessante dàqueles momentos, para revivê-los.
Ao longo dos anos temos a sorte de nos deparar com surpresas, algo que nos remeta ao “doce da minha avó”, ou um “era assim que minha mãe costumava fazer”. Percebam que, na grande maioria das vezes, o doce está conectado ao feminino, ao agrado de mãe/vó/tia, não é por acaso que a carga afetiva é tão forte.
Cada doce carrega uma história. Carrega memória, às vezes até mais fortes que a da comida, pois o doce tem ainda a característica de “momento especial”: de uma comemoração, de um alento por um machucado, de uma “recompensa” por dever cumprido, de um segredo entre avó e neta (que não deveria comer uma segunda porção da sobremesa, mas ganhou sem a mãe ver), de uma viagem de férias na praia (única vez no ano em que picolé todos os dias da semana era possível!), e por aí vai…
Quando escolhi a confeitaria como profissão, a capacidade de se proporcionar momentos assim com meu trabalho foi definitivamente um dos motivos da minha decisão.
São muitas as memórias afetivas ligadas aos doces na minha vida, talvez as minhas mais queridas. E pelo mesmo motivo acho impenssável a confeitaria não ter o mesmo espaço na gastronomia por aqui. Simplesmente não faz sentido,não acham?
Fazer e comer doces me faz feliz. Fazer para outros se deliciarem e criar suas próprias memórias, celebrar um evento, ou mesmo um momento de paz num café da tarde, é ainda mais gratificante.
O tema é tão importante, que já virou debate, evento, e teve uma edição inteira de revista de gastronomia dedicada a ele (Revista Feira – segunda edição).
Fica aqui meu convite para essa reflexão. Um tema importante e de grande peso para pensarmos o que e como queremos ver no crescimento da profissão por aqui.
E fica também minha homenagem à receita de arroz doce da minha avó paterna, que era sua sobremesa assinatura, e que marcou nossas vidas com todo o carinho que ela dedicava à família. Essa receita me remete a coisas muito boas: férias no interior, almoço em família, geladeira vermelha antiga da vovó cheia de delícias, natal, gostinho de limão e canela em colheradas fresquinhas e cremosas…pois não tem lugar mais ligado afetivamente aos doces do que Minas.
Essa é a minha versão. Mais leve, mas não menos saborosa, para você ter um momento de afeto com os seus, e, quem sabe, criar novas memórias..
Essa receita usei na primeira edição do “Jantar de sobremesas”, fica deliciosa servida com compota de jabuticaba, ou frutas frescas da estação!
Um pouquinho de doce e carinho para seu dia, e até a próxima!
Arroz doce da Vó Nidinha, com afeto, pela neta Mariana:
Ingrediente | Quantidade |
Arroz | 200g |
Água | 600g |
Leite integral | 400ml |
Açúcar | 40g |
Limão (casca sem a polpa branca) | 1 |
Chocolate branco | 100g |
Crème de leite fresco | 400g |
Canela em pó | Salpicar a gosto |
Arroz doce: cozinhar o arroz na água até ficar bem macio. Juntar leite com açúcar, e casca de limão cortada em tiras sem a polpa branca e cozinhar em fogo brando até ficar cremoso.
Fora do fogo juntar o chocolate branco e incorporar. Resfriar.
Bater creme de leite fresco em ponto quase chantilly e incorporar ao arroz doce frio.
Salpicar canela em pó e servir.