Pular para conteúdo
La Parisserie
  • Nossa história
  • Cursos / E-books
  • Consultoria
  • Blog
  • Contato
REFLEXÕES

Cópia e inspiração.

Quando entramos no ramo da gastronomia, principalmente confeitaria, talvez o que mais ouvimos falar é sobre “cópias”, algo que chega a criar discussões acaloradas. Minha ideia nesse post é bem mais fazer questionamentos do que dar repostas. Acho que é um tema extremamente relevante e demanda reflexão.

Que fique claro que falamos aqui de receitas, e não cópia de identidade/marca, ou uso de fotos alheias para vender seu produto etc, o que já são problemas bem diferentes e com questões legais. Quero trazer a reflexão: Existe diferença entre inspiração e cópia? Existe cópia? Se pegamos uma receita clássica e a reproduzimos, ou ainda, começamos a comercializar, é cópia? Depende da receita? São questões que qualquer pessoa do meio já se fez ou já passou em algum momento.

Vejamos uma receita de quindim. Reproduzi-la e comercializá-la provavelmente não vai levantar questionamentos. O mesmo se uma pessoa abrir uma loja só de macarons, ou de brigadeiros, bem-casados, brownies etc. Essas receitas foram criadas em algum momento, por alguém. Se faço uma “tarte tatin” no meu atelier, não faço referência às irmãs Tatin da França, e ninguém questiona isso. Será porque é uma receita considerada clássica? E a questão estaria nas novas criações? Existem novas criações? É de se pensar…

Algumas pessoas questionam a cópia estética de um bolo ou torta, por exemplo, mesmo que a receita não seja a mesma. Seria a cópia do visual o problema então? Mas quanto a reprodução de uma receita? Até onde é o limite?

Há os que consideram que mudar um ingrediente numa receita já a faz diferente da original de onde tiraram. Ou que a “mão” de cada um acaba dando resultados diferentes, então não existiria cópia. Não concordo inteiramente, pois a receita, a meu ver, é muito mais a estrutura do que é feito, proporções, conceito etc, que simplesmente a escolha dos ingredientes (que também fazem parte). Acho que a menção do autor que te inspirou (se esse for o caso, pois coincidências acontecem muito nesse meio também) é sempre de bom tom, uma questão de respeito ao colega de profissão.

Por outro lado, trabalhando no meio também como professora, tive que aprender a ser mais leve com essas questões. Minhas receitas (que são também uma mistura de influências de memórias e experiências próprias, estudos da faculdade ou de chefs que admiro) serão reproduzidas assim que a aula acabar. E eu tenho que estar ok sobre isso, ou enlouqueceria, e realmente está tudo bem! Ver os resultados dos alunos é incrível e recompensador! E eu passo para o próximo passo, vou criar coisas novas, montar aulas novas, me força a inovar e continuar estudando.

Hoje vejo a “cópia” como parte do processo evolutivo de criação. A verdade é que todos começamos copiando alguém! Seja uma receita da avó ou da mãe, e, depois, de profissionais que admiramos. Nessa fase, cópia e inspiração se misturam e isso faz parte do processo criativo a meu ver. Tentamos reproduzir o que admiramos, até para saber se somos capazes de fazer algo igual. É a fase das inseguranças, do “será que eu consigo fazer isso?”, e você copia, tenta reproduzir exatamente aquilo que te fascina.

Com o tempo, o normal é perder essas “muletas”, que devem ir abrindo espaço para o processo criativo, que é exatamente isso, um processo. Não é dom. Criatividade, para mim, é um esforço diário, você constrói, busca, tenta, conhece, experimenta, estuda, testa diariamente. E isso acaba fazendo parte do seu dia a dia profissional. No entanto, as influências não cessam, ainda mais em um mundo como o de hoje, em que a informação está a um click de distância, e sabemos que ninguém mais inventa a roda.

Me peguei pensando mais sobre o assunto e me lembrei do estudo que meu pai fez sobre a “História das construções”. Anos de pesquisa que se transformaram em 4 volumes de livros incríveis falando das construções/arquitetura/engenharia das várias civilizações que já andaram pelo mundo. O ponto central da pesquisa é exatamente como a mente humana encontra soluções semelhantes, se não idênticas, para os problemas de engenharia, mesmo dentre civilizações que nunca se encontraram, seja pela distância geográfica, ou pela linha do tempo. Ele demonstrou que, mesmo separadas por milhares de quilômetros ou por séculos, sem troca de informações ou relacionamento de nenhuma forma, algumas civilizações humanas se depararam com os mesmos problemas de engenharia em algum momento, e as soluções foram as mesmas.

Mas o que isso tem a ver com confeitaria? Eu acho que muito (aliás, acho que a confeitaria conversa diretamente com várias outras áreas de conhecimento, mas isso é assunto para outro post.)! Me faz pensar como a mente humana, por mais engenhosa e criativa que possa ser, segue alguns parâmetros. Numa época em que comunicação nem sequer era possível, “cópias” aconteceram. Hoje, em um mundo totalmente conectado, é praticamente impossível, mesmo que inconscientemente, não ser influenciado em nossas ideias.

Essa perspectiva acabou me dando outra visão no meu trabalho no atelier também. Percebi que quanto menos eu foco no trabalho alheio, ou o que estão fazendo, mais eu trabalho feliz, e mais minha criatividade flui. Sei quais são meu conceito e identidade na confeitaria, sei aonde quero chegar, o que gosto de fazer. E trabalho tentando evoluir sempre, eu com meu eu anterior. Progredir o meu trabalho com o que eu fazia a tempos atrás.

Quando desviamos nosso foco para preocupações como “alguém está me copiando”, ou se “fizeram minha receita”, etc, perdemos um tempo precioso em que poderíamos estar crescendo na profissão. Se tem verdade no seu trabalho, se você acredita nele, no seu conceito, na sua identidade, cópias são pouco demais para te tirar do sério. Acho que, mais que se perguntar se “existe cópia”, é melhor se perguntar se vale esquentar a cabeça sobre. Vale seu tempo e esforço?

Podemos apontar o dedo para muita coisa “por fora” sobre a valorização da confeitaria no Brasil. Falta reconhecimento, falta investimento do mercado, apoio nas faculdades de gastronomia, dentre outros problemas. Mas falta troca no nosso meio também, falta compartilhamento, falta interesse em crescer juntos, falta mais humildade, e menos competição. E acho que essa discussão acaba caindo bem nesse ponto. E você? O que acha a respeito?

REFLEXÕES

Para valorizar é preciso conhecer… e reconhecer…

* Texto publicado em fevereiro de 2020 na coluna AÇÚCAR (Site territórios gastronômicos)

Depois de algumas semanas sumida, estou de volta! Tirei o mês de janeiro para organizar o ano que entra, e refletir sobre os próximos passos. Quem me acompanha pelas redes sociais já viu que entramos com novidades! Tem agenda de cursos, aulas ao vivo, eventos, e até roteiro de viagens pela confeitaria. E por aqui, continuarei a trazer assuntos que considero relevantes na área, tentando sempre levantar questionamentos e reflexões, mas, também, momentos de leveza e afeto, que só um doce pode proporcionar. 🙂

Já começamos o ano com um assunto polêmico, e que tem muito ainda o que ser falado. Deu até “live” com direito a muita interação e questionamento: uma discussão muito importante sobre o uso do tacho de cobre na doçaria mineira, sobre legislações que não conversam com quem vive a realidade do assunto, proibições sem fundamento, mitos que precisam ser esclarecidos. Tenho percebido que tudo passa, mais uma vez, pela educação/conhecimento, mas também por um fator muito importante: o reconhecimento. “Valorização”, “identidade”, “cultura” são termos de peso e importância, mas que, para mim, só fizeram sentido depois que entendi que tem a ver com o reconhecer valor no que é nosso, e se reconhecer como parte disso. Como assim?

Já contei por aqui sobre minha trajetória com a confeitaria, minha formação na França, e como vejo, hoje, que minha experiência fora me aproximou muito dos objetivos que busco por aqui. Já falei o quanto admiro a confeitaria francesa, além das técnicas, pelo que ela representa no seu país, como é valorizada e admirada, e levada muito a sério por lá, e como eu gostaria de ver isso acontecendo por aqui também. Mas nem sempre pensei assim… Passei um tempo acreditando mesmo que o que vem de fora é sempre melhor, o clássico “complexo de vira-lata”. Mudar essa perspectiva não é fácil, compreender nosso potencial e ver o quanto nossa história é rica, é um exercício constante de reconhecimento, de olhar pra dentro e se assumir como parte dessa identidade.

Durante minha estadia na França, tive a oportunidade de estudar ao lado de pessoas de várias partes do mundo, e isso foi, com certeza, uma das coisas mais incríveis dessa experiência. Uma troca de valores inestimável que nos faz questionar muitas coisas, aprender sobre tolerância, respeito, autoconhecimento. Alguns desses colegas se tornaram grandes amigos e foram muito importantes na minha trajetória por lá. Equatorianos, norte americanos, colombianos, venezuelanos, argentinos, chineses, turcos, nigerianos, gregos, brasileiros de diversas regiões, britânicos, dentre outras nacionalidades que dividiram as bancadas, salas de aulas, perrengues, viagens, baladas, e experiências nesse país, que nos recebeu para um período de imersão e estudos sobre sua própria cultura.

Um deles foi um colega grego, o Ilias, que, coincidentemente, tinha uma fascinação enorme pelo Brasil, e sonhava em conhecer nossas terras. Seu pai era marinheiro e viajou diversas vezes para cá, o que lhe rendeu belas histórias que contava aos filhos sobre nosso país, sempre de forma muito encantadora e afetuosa. Ele me contou que sonhava em conhecer mais sobre nossa cultura e poder provar da nossa culinária, que parecia aos olhos dele algo realmente incrível! Como não podia deixar de ser, o orgulho mineiro entrou em cena e contei a ele das delícias da nossa culinária, nossa ligação com uma terra de montanhas e muita história, das influências e heranças do colonialismo nos sabores, das comidas “tradicionais”, e muita coisa que nos permeia. Cheguei a levá-lo, junto com outros colegas, a um restaurante brasileiro para provar alguns quitutes, e encomendei dos parentes que foram me visitar outras guloseimas para apresentar por lá (doces, polpas de frutas típicas, cachaças…), e fiz também algumas receitas afetivas, que todo brasileiro fora de casa por muito tempo precisa de vez em quando: pão de queijo (adaptado, claro), canjica, bolo de cenoura com chocolate, e brigadeiro, para citar alguns.

Toda vez que falava da nossa comida enchia o peito de orgulho, e o Ilias sempre muito entusiasmado em provar de tudo que eu levava e em conhecer mais. Ele, por sua vez, também me trazia delícias da terra de Sócrates e dos Deuses, fazendo desse intercâmbio algo realmente rico e sensacional!

Foi então que um dia comentei com ele sobre os preparativos do meu casamento (estava noiva na época), e das coisas que eu gostaria no dia. Falei que queria muito ter um banquete com “comidas mediterrâneas” na festa (entre aspas mesmo, pois até então reduzia-se a comida mediterrânea a basicamente uma mesa de prosciuttos, queijos, pães e massas. #vergonhasquepasseinavida), super na moda nos casamentos naquele momento. E me lembro de contar com entusiasmo essas ideias, enquanto as feições dele ficavam cada vez mais sérias e pensativas. Foi então que ele me interrompeu, incomodado, e falou: “Na minha terra, em dias de celebração e importantes como um casamento, não se pensaria jamais servir algo diferente do que nossas comidas. Sem elas não tem sentido a festa, elas tem muito significado, são parte da celebração. Você me conta de tantas maravilhas das sua cultura, uma culinária tão rica e com tanta tradição, e quer levar comida estrangeira para o dia mais importante da sua vida? Eu não entendo…”

Foi aí que, “cataploft”! Fiquei sem fala, e senti como se tivesse levado um soco no estômago! Foi um choque de realidade realmente forte. Na minha ignorância, enchia a boca para contar da nossa cultura culinária, dos nossos sabores e ingredientes, mas, pelo jeito, não os reconhecia como parte de mim o suficiente, não lhes dava valor o suficiente para deixá-los serem parte de um dia especial da minha vida. Enchemos o peito para falar do que é nosso lá fora, mas aqui, não valorizamos, não fazemos questão de conhecer, entender, se orgulhar.

Isso me deixou realmente muito abalada e me fez rever várias posturas. A mudança dessas posturas não foi, nem é, imediata, até porque leva um tempo para perceber quais são, e como elas estão enraizadas, e então combatê-las. E elas surgem no dia a dia, sem a gente perceber. É, como eu disse, um exercício constante o reconhecer e o valorizar. São posturas como essas que fazem surgir legislações sem sentido, que preferem proibir sem entender, sem ouvir, sem conhecer. São posturas como essas que transformam palavras de significados simples e claros, em adjetivos pejorativos. Não reconhecemos, ou não nos reconhecemos/assumimos como parte dessa identidade, uma vergonha velada que cai na desvalorização.

Esse texto todo é pra dizer que, sim, é muito importante ter bandeiras como a valorização da confeitaria, da comida de raiz, dentre outros, mas que é preciso entender que isso é um movimento que deve vir de dentro pra fora, voltar a olhar de onde viemos, assumir e abraçar nossa cultura. Entendê-la, conhecê-la, e trazer conosco para futuro, continuando a construção da nossa identidade. Acredito que, antes do valorizar a confeitaria no Brasil, é preciso reconhecer que ela é parte da nossa identidade cultural, e penso que meu trabalho deve trilhar por aí. A valorização virá sem esforço se pensarmos assim.

Te convido a fazer esse exercício comigo, eu também estou aprendendo todos os dias, não é simples, mas as descobertas são muito lindas. Com essa reflexão, desejo um ano de muita inspiração, trabalho, e reconhecimento para todos nós!

Obs: Para quem ficou curioso: sim! O menu do casamento foi totalmente alterado, e incluiu pratos e ingredientes típicos de todo o Brasil em um menu lindo e cheio de significado, elaborado pela maravilhosa Agnes Farkasvolgy do Bouquet Garni! Uma das melhores decisões que já fiz!

O resultado foi incrível, inesquecível, delicioso, único, e, até hoje, super elogiado!

Efkaristo Ilias!

FRANÇA

Galette des Rois – Tradição Francesa do mês de…

                           laparisserie-1451740049914

 

O mês de Janeiro na França ainda tem comemorações! O Dia de Reis é comemorado todos os anos com uma sobremesa especialmente feita para a ocasião. A Galette des Rois é tradicionalemente feita a base de massa folhada e recheada com creme de amêndoas ao rum, ou com frangipane, mas hoje em dia você encontra as mais variadas opções de recheios: chocolate, frutas secas, compota de maçã, gianduia, etc. Em algumas partes da França a Galette é feita com massa de brioche em forma de coroa com frutas confitadas e água de flor de laranjeira.

A tradicional torta conta ainda com uma pequena “surpresa”. Dentro de cada uma das tortas é escondida uma “fève”. Geralmente pequenas estatuetas feitas de cerâmica e que podem ter os mais variados formatos e temas. De acordo com a tradição, quem sair com a fatia premiada é coroado o Rei, por isso mesmo várias confeitarias já enviam, também, uma coroa de papel dourado junto com a torta para que a brincadeira seja completa!

Para entrar no clima Francês nesse mês de Janeiro a La Parisserie terá sua própria versão da Galette des Rois! Feita com massa folhada crocante e recheada com creme de amêndoas ao licor Amaretto e gotas de chocolate belga 50% 😉 Está imperdível!

E logo abaixo você encontra a receita tradicional da torta!

Ingredientes:

  • Dois pedaços de massa folhada de +- 30cm de diâmetro.
  • 60g de manteiga em temperatura ambiente
  • 60g de açúcar refinado
  • 1 ovo
  • 60g de farinha de amêndoas
  • 1/2  colher de chá de Rum

Para finalização

  • Uma gema batida
  • 50ml de agua
  • 50g de açúcar refinado

Num bol misture a manteiga com o açúcar usando um fouet até ficar bem cremoso. Juntar a farinha de amêndoas e misturar. Por último o ovo e o rum. Misture até ficar bem homogêneo. Coloque o creme num saco e confeitar e leve à geladeira por 30min.

Coloque um dos pedaços de massa folhada sobre um tabuleiro forrado com papel manteiga. Usando um aro de 20cm de diâmetro marque a massa delicadamente. Disponha o creme de amêndoas no centro do círculo marcado na massa fazendo um espiral. Deixe +- um dedo de distância da borda marcada. Se quiser, esconda uma “fève” no creme.

Pincele toda a borda da massa com àgua morna e coloque o outro pedaço de massa folhada por cima. Passe a mão em volta selando bem toda a torta. Colocar o aro de 20cm por cima novamente para marcar. Levar a torta ao freezer por 30min.

Com a ponta de uma faca bem afiada corte a massa folhada em volta da marcação anterior deixando um espaço de 2cm de borda. Passar a gema batida por toda a torta e levar a geladeira até secar. Passar mais uma camada de gema batida, e usando a ponta da faca fazer desenhos na massa. Usando um palito de dente pique toda a massa.

Levar ao forno pré-aquecido a 200 oC até dourar completamente. Enquanto isso ferva a água e o açúcar para fazer um xarope. Assim que ferver e o açúcar estiver totalmente dissolvido tire do fogo e reserve.

Assim que a torta sair do forno pincele o xarope por toda a torta. Isso dará brilho.

Deixe esfriar e sirva! 🙂

PERFIL

Depois de se formar em Direito na UFMG, Mariana Correa resolveu mudar de carreira e se dedicar ao que sempre lhe fascinou: a cozinha. Formou-se em gastronomia em Belo Horizonte e, em 2013, foi para França, onde cursou o Le Grand Diplome na renomada escola de culinária Le Cordon Bleu, em Paris, permanecendo entre os cinco melhores estudantes durante todo o curso.

CATEGORIAS

  • DICAS 9
  • ENTREMETS 1
  • EVENTOS 1
  • FRANÇA 11
  • LES TARTES 1
  • PARIS 11
  • PÂTISSERIE 7
  • PETIT FOURS 1
  • RECEITAS 5
  • REFLEXÕES 7

TAGS

belohorizonte commelesfrançais confeitaria cordonbleu dicas doces frança história laparisserie minasgerais natal paris passeio pâtisserie receita reflexão sobremesa tradicional viagem viagens
Tema por Colorlib distribuído por WordPress